sábado, 16 de janeiro de 2010

Brisa

Brisa. Uma brisa gelada passou em seu rosto , fazendo-o abrir seus olhos lentamente , sem ainda ter noção de onde estava. Reunindo poucas forças , sua visão estava embebida no sol forte das 14:00. Ainda não tinha noção de onde estava , mas o barulho de carros e de gritos o fizeram despertar mais rapidamente. Girou o pescoço , e uma dor lacinante arrematou seu corpo como um terremoto devastador. Quase perdeu as forças nas pernas , mas manteve-se em pé. Reconheceu a estrada que passava cortando a cidade de norte a sul. O corpo que estava aos seus pés , quebrado , atropelado , sem vida , também era familiar. Muito familiar. Estava de calça jeans e uma blusa preta , lisa , sem estampa. Seus pés estavam descalços , com marcas devido a caminhada no forte calor no asfalto. Não conseguiu aterrorizar-se , mas deu um longo suspiro , sabendo que sua missão havia sido cumprida. O viaduto sempre esteve presente na sua mente , e naquele dia , ele era o caminho para sua tão esperada redenção. Ao usa-lo como via crúcis , seus dias pareciam que nunca existiram , seu coração nunca havia batido , seus olhos nunca tinham visto cores. A sua estrada , o seu asfalto , era a purificação de seus pecados e a resposta para todas as suas dúvidas. Escolheu o cenário como se escolhe um prato no restaurante. Hora , local , roupas , sentidos. A dor , aquela dor que o percorria , o enlouquecia como suas dúvidas de poucos segundos atrás. Mas não se mexia. Não conseguia mover-se. A visão de seu corpo , grudado no asfalto em brasa era a única coisa que o alcançava. Os gritos e a multidão ao seu redor não o incomodava , somente sentia dor. Ao ver aos poucos , os restos que se saltavam do asfalto , não chorou , não gritou , apenas suspirou mais uma vez. Os metros que a ambulância se afastava , com seu corpo dentro de um saco plástico preto , de forte cheiro não eram mais lamuriosos que a dor que o invadia. Nesse momento , a brisa torna-se mais forte , tirando de si o cheiro de sangue que marcava o asfalto. No afã de se mexer , a dor somente aumentava. Nesse momento , como a brisa que o marcava , uma mão toca seu ombro e uma voz suave invade seus ouvidos:
-Siga-me...

Brisa

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Dois mil e alguma coisa...

Dor.
O que sinto é tanta dor que não consigo pensar em mais nada.
Não tenho forças
Não tenho alegrias
Não tenho orgulho.
Começo isso que chamamos de ano com o mesmo sentimento de rejeição que me afontou no que passou.
Peço perdão por estar entre nós.
Peço perdão por um dia ter tido um coração.